Compulsão por compras afeta orçamento
Por Gisele Bortoleto
Publicado no jornal 'Diário da Região' de 19 de fevereiro de 2006


Uma parcela da população brasileira faz compras por impulso. O problema desse hábito começa quando as pessoas perdem o controle e comprometem o orçamento familiar. O resultado são dívidas sem fim e credores insistindo em receber. Se você não resiste a uma vitrine ou compra coisas que não precisa, cuidado, você pode estar entre os consumidores compulsivos. Comprar por compulsão tornou-se bastante comum e ganhou nome: oneomania. O comércio em geral, que precisa vender, usa o "marketing de emboscada" com facilidades no pagamento em até 24 vezes ou em 10 vezes sem acréscimo no cartão de crédito. As simples palavras "promoção" ou "liqüidação" em uma vitrine induzem às compras consumidores que deveriam pesquisar os preços para saber se realmente existe alguma vantagem naquele valor oferecido. Para fugir das tentações e evitar o endividamento, o segredo, segundo especialistas, é não gastar mais do que você ganha, rever as necessidades e estabelecer metas de redução de gastos. "Você precisa de disciplina", disse o consultor financeiro Valdecir Buosi. As facilidades no pagamento, geralmente atraem as pessoas que dispõe de boa gestão financeira.



"Não é porque é promoção que você precisa comprar. É preciso analisar se você vai ter recursos no momento e depois para pagar as parcelas", afirmou Buosi. Caso o consumidor tenha se endividado, Buosi aconselha trocar as "dívidas ruins por boas". O primeiro passo é fazer uma relação das dívidas. "Pegue um empréstimo pessoal que tem juros mais baratos que o cheque especial, tente renegociar as dívidas com reparcelamento e não fuja dos credores", disse. Hipólito Martins Filho, delegado do Conselho Regional de Economia (Corecon), lembra que no mundo globalizado, a mídia cria necessidades que não existem. "Nos supermercados, os produtos supérfluos ficam nas gôndolas situadas em locais estratégicos", disse. Esses estabelecimentos levam ainda em conta que 80% dos consumidores não faz lista e compra por impulso. De olho neste detalhe, a maioria dos supermercados é climatizada com corredores amplos para que o consumidor possa ficar mais tempo e comprar o que, muitas vezes, não precisa.

"As pessoas acabam comprando alguma coisa para satisfazer uma necessidade oculta e vivemos em um mundo materialista onde o poder está no que você tem", afirmou Martins. Assim como todos os dependentes, os compulsivos demoram a assumir seu problema. A idade média de início da doença é aos 18 anos, no entanto, o comportamento só é percebido como problemático 10 anos mais tarde. Segundo Boriola, uma pessoa pode passar anos comprando compulsivamente e adquirindo dívidas de até 10 vezes a sua renda mensal, até perceber que sofre de uma doença. O assunto é tão comum nos dias de hoje que levou Boriola a escrever o livro Paz, Saúde e Crédito e a elaborar um projeto para inclusão nas escolas da disciplina saúde financeira. "A ajuda só é procurada quando a dívida já é insustentável e aí é necessário buscar acompanhamento de profissionais para planejar e recuperar as dívidas", disse Boriola.

Vício de comprar endividou jornalista
Cansado de ver o orçamento desequilibrado por comprar tudo o que via pela frente, principalmente roupas e sapatos, há um ano e meio o jornalista M.C.D.S., 30 anos, chegou à conclusão de que era hora de recorrer à ajuda profissional para se livrar do "vício". "Eu era um comprador compulsivo e, hoje, não sou mais", disse o jornalista. Por via de dúvidas, depois de se sentir curado, para evitar cair em tentação, ele deixou de carregar talão de cheques e cartão de crédito. "Se preciso comprar alguma coisa, pago à vista e, agora, sobra dinheiro no final do mês", afirmou. O hábito de comprar era uma forma de compensar frustração. O resultado eram peças no armário que ele não chegava sequer a usar. A única coisa que disse ter conseguido, ao invés da satisfação que era momentânea, foi gastar mais do que o orçamento permitia. "Me via sempre apertado, entrava no cheque especial e tinha de recorrer a financiamentos para pagar dívidas, o que me trouxe vários problemas ", afirmou.

Foi quando o nome foi parar no SCPC é que M.C.D.S descobriu que tinha um comportamento inadequado e procurou ajuda especializada. "Minha terapeuta me explicou que tinha de lidar e trabalhar com a minha realidade dura e dois meses depois eu já havia aprendido”, disse. Hoje, antes de comprar, o jornalista garante que pensa duas vezes e só compra se tem condições. Caso contrário, deixa de lado e compra quando pode. Os amigos, que sempre tentaram ajudá-lo, concordam que nos últimos meses ele já está bastante equilibrado.

Mania requer tratamento psiquiátrico
A impulsão leva as pessoas a comprar sem nenhuma noção do que o ato pode acarretar e requer tratamento psiquiátrico e terapia cognitiva comportamental. É o que garante a psiquiatra Silvanita Parolo Yacubian. "É um desequilíbrio nos neurotransmissores cerebrais e as pessoas têm de aprender a reformular conceitos e dominar os impulsos", disse. Dependendo dos motivos que levam uma pessoa a esses impulsos, o tratamento pode demorar até um ano e a utilização de medicamentos. O resultado desses impulsos na hora de comprar, pode descontrolar as finanças de uma pessoa e até mesmo acabar com casamentos, segundo ela.

É o caso de uma paciente da médica que gastava demais com roupas e calçados. "Ela encomendava dois ou três sapatos de cada vez", disse. Uma paciente da psiquiatra, movida por impulsos de compra, chegou a ter uma dívida de R$ 500 mil. Primeiro fez dívidas com cheque especial e cartões de crédito. Em seguida, empréstimo para cobrir esses "rombos" e, depois, pegou dinheiro com agiotas para pagar os empréstimos. "Ela não gastou todo esse dinheiro, mas a dívida chegou a esse valor", afirmou.

Evite o consumo impulsivo:

  • Faça uma lista do que precisa ser comprado e discuta com a família do que é realmente necessário
  • Se não der para comprar tudo o que precisa, priorize e faça um cronograma de compras
  • Só saia para fazer compras com uma lista nas mãos e não compre nada fora dela
  • Evite andar com talão de cheques ou cartão de crédito por causa dos juros muito altos
  • Saia de casa só com dinheiro necessário e fuja dos locais que estimulem compras. Existem formas de lazer que não exigem gastos

Fonte - Cláudio Boriola, consultor e Buosi & Fernandes Consultoria

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